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Mais de 500 pinguins vieram a Florianópolis em 2022; conheça o passo a passo da recuperação

Por Rádio Princesa da Ilha FM 98.3 em 07/08/2022 às 08:20:16

Segundo o R3 Animal, dos 508 animais resgatados, apenas 36 estavam vivos quando as equipes os encontraram. Pinguins em tratamento no R3 Animal

Tiago Ghizoni/ NSC

Eles vêm em grupos da região da Patagônia para o litoral catarinense, entre junho e setembro, em busca de alimento. Os pinguins-de-Magalhães são presença frequente na Ilha de Santa Catarina durante o inverno brasileiro.

Segundo a Associação R3 Animal, especializada no atendimento de animais marinhos, já foram mais de 508 resgates na região em 2022 (leia mais abaixo).

Muitos deles, no entanto, chegam às praias de Florianópolis machucados, desidratados ou exaustos da viagem e, por isso, precisam de ajuda para se restabelecerem e concluírem o ciclo migratório.

Conheça rotina de pinguins em centro de reabilitação de Florianópolis

Por causa desta demanda, a associação tem um centro capaz de atender 120 pinguins simultaneamente no Norte da Ilha. Mas você sabe como é o processo de recuperação?

O g1 SC conversou com especialistas do R3 Animal, que explicaram o passo a passo para a reabilitação dos animais resgatados. O grupo integra do Projeto de Monitoramento de Praias (PMP). Confira abaixo.

Resgate

Três equipes de duas pessoas monitoram, diariamente, as praias da faixa Leste da Ilha em busca de animais marinhos que precisam de atendimento. Nas demais regiões, o resgate é feito a partir de acionamento de moradores e banhistas.

Ao serem resgatados, os pinguins são levados para o complexo do R3 Animal, no Parque Estadual do Rio Vermelho, no Norte da Ilha, em caixas de transporte para animais.

Normalmente o transporte ocorre sobre mantas para mantê-los aquecidos, pois, segundo a equipe, é comum que eles cheguem com hipotermia.

"Se ele estiver com hipotermia, será deixado em uma unidade de tratamento para terapia intensiva, com fornecimento de calor", comenta a médica veterinária Marzia Antonelli.

Segundo dados levantados pelo R3 Animal, dos 508 pinguins-de-magalhães resgatados desde 29 de maio, data do primeiro registro deste ano, apenas 36 estavam vivos no momento do resgate. Desses, nove resistiram e seguiam em reabilitação na segunda-feira (1º).

Além disso, o local também continua monitorando dois pinguins da temporada passada e quatro animais que vieram de outras unidades do PMP do Estado. Ao todo, há 15 pinguins na recuperação.

De acordo com a associação, os animais resgatados vivos geralmente são jovens e encaram pela primeira vez a migração da Patagônia ao Litoral catarinense. Como são inexperientes, chegam exaustos e magros.

Os juvenis, informou a associação, possuem cor indefinida e acinzentada, já os adultos apresentam coloração preta e branca, com faixas bem definidas ao redor da cabeça e nas laterais do corpo.

No espaço, os animais têm acesso a ambulatório, salas de estabilização, internação e isolamento, laboratório de análises clínicas, sala de necropsia, sala de cirurgia e sala de despetrolização, que é a retirada do óleo do corpo. Segundo o R3 Animal, alguns pinguins chegam intoxicados à unidade.

Conheça o passo a passo da recuperação dos pinguins que migram para SC

Ben Ami/NSC

Triagem

Ao chegarem no Parque Estadual do Rio Vermelho, os animais são encaminhados ao ambulatório, onde é feita a triagem dos pinguins. É lá que que a equipe de veterinários verifica as condições de saúde dos recém-chegados.

A partir desse momento, os animais passam a ser identificados por números, com fitas presas ao corpo deles que só são retiradas no fim do tratamento, quando são microchipados e devolvidos à natureza.

"Nós recebemos esses animais da praia e eles passam por uma avaliação clínica. Lá nós fazemos todos os exames, aferimos a temperatura, avaliamos lesões, mucosas, grau de desidratação, e, de acordo com nossa análise, ele vai passar por um tratamento [específico]", explica Antonelli.

Os animais em situação mais vulnerável são levados à sala de internação, onde passam por um tratamento intensivo.

Os outros são encaminhados à área de estabilização, que possui os mecanismos necessários para cuidados mais simples, como cercadinhos com luzes para aquecer os pinguins que chegam com hipotermia e uma Unidade de Tratamento Animal (UTA) com fornecimento de oxigênio para aqueles que apresentam dificuldade respiratória.

Pinguim saiu do ambulatório e foi para a Unidade de Tratamento Animal, na estabilização

Tiago Ghizoni/ NSC

O analista de laboratório do R3 Animal, Rafael Meurer, explica que, ao chegar, são feitos exames de sangue nos pinguins, com análise de hemograma completo, de bioquímica sanguínea e de possível presença de hemoparasitas.

"Além do exame de sangue, a gente faz também os exames parasitológicos de fezes para verificar se, quando chega, tem parasita. Se tiver, é feito o tratamento. Esse exame é repetido ao longo do processo em que ele está aqui em reabilitação", explica Meurer.

Estabilização

Nove pinguins-de-Magalhães estavam sendo atendidos na sala de estabilização na segunda-feira (1º). O local é higienizado todos os dias e, para entrar no recinto, é necessário molhar os pés em água com cloro, para evitar contaminação.

Lá os animais recebem alimentação três vezes por dia. A comida costuma ser uma pasta de peixe que é transferida a eles por seringas de 60 ml a 120 ml, dependendo da saúde do animal (foto abaixo) Segundo a veterinária, o utensílio vai até a entrada do estômago deles.

Animal sendo alimentado por seringa

Tiago Ghizoni/ NSC

Antonelli explica que muitos ainda não estão em condições de ingerir comidas sólidas. Alguns deles sofrem de cólica, inclusive, e aproveitam para receber medicamento durante a refeição. Outros ingerem lixo do mar e chegam com problemas gastrointestinais.

"Eles passam por esse período de tratamento, que varia de acordo com os sinais clínicos. São medicados, ficam nas salas internas, onde iniciam com uma alimentação mais leve, normalmente com papa de peixe, até conseguirem fazer a transição para alimentação sólida com peixe", comenta a veterinária. Após esse processo, os animais passam por novos exames.

No local, cercadinhos com luzes aquecem os pinguins. Uma UTA, que é uma espécie de incubadora, fornece oxigênio àqueles que apresentam dificuldade respiratória. Os mesmos utensílios são vistos na sala de internação, ao lado, onde ficam os resgatados em situação mais grave.

Simulação do habitat natural

Após a estabilização dos animais, os pinguins são levados à área externa do complexo, onde se preparam, com uma série de apelos sensoriais, para voltarem à natureza. Atualmente, seis animais estão no local, segundo o R3 Animal.

Lá, a piscina simula o mar, importante para a impermeabilidade das penas, e a comida volta a ser o peixe em que estão habituados.

De acordo com Antonelli, a impermeabilidade dos pinguins acontece pelo arranjo estrutural das penas, mas também com auxilio de uma secreção da glândula uropigiana, importante para regular a temperatura corporal.

Na piscina, a maior das 12 que existem no complexo, eles reaprendem a estimular a glândula. "A gente precisa estimular, fazendo com que eles fiquem bastante tempo dentro da água, saiam e estimulem a eliminação da secreção dessa glândula. Eles precisam estar tão impermeáveis que, às vezes, a gente consegue ver a formação de gotas no corpo deles", afirma a veterinária.

É por causa da impermeabilidade também que, após a alimentação com peixe, os pinguins passam por banhos de limpeza para a retirada de possíveis resíduos do alimento nos corpos (foto abaixo).

Pinguins tomam banho após receberem alimentação sólida

Tiago Ghizoni/ NSC

Na área externa, eles também experimentam a textura das pedras, importante para evitar lesões nas patas, enquanto um ventilador é usado de repelente, para protegê-los.

Ao passarem por esse processo, os pinguins são reinseridos à natureza, geralmente em grupos de pelo menos 10 animais, pois a espécie é acostumada a andar em bandos. Eles saem microchipados do R3 Animal: assim, caso se machuquem e sejam resgatados por outra unidade de apoio, é possível identificá-los.

Sala de necropsia

Cerca de 92% dos pinguins estavam mortos quando foram encontrados na Ilha de Santa Catarina. Segundo o veterinário Sandro Sandri, a partir dos exames de necropsia, feitos no local, é possível "traçar um esboço da história de vida deles pré morte". Os testes acontecem assim, segundo ele:

Análise macroscópica: nesse exame, é possível avaliar os órgãos e verificar as alterações externas e internas de maneira macroscópica.

Análise microscópica: material é enviado para exames patológicos e de microbiologia (ex.: pesquisa de bactérias em pulmões, em trato digestivo, análise de parasitas).

O especialista explica que a maior causa das mortes, sobretudo em período de migração, é afogamento, "tanto por causa do desgaste físico, proveniente da migração, quanto pela interação com apetrechos de pesca".

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Fonte: G1 SC

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